Saber sobre a distinção entre essas duas perspectivas ajudam a ter um olhar específico para o conflito armado em Ruanda
Em algum momento vocês viram Hotel Ruanda, Ghosts of Rwanda, Black Earth Rising ou Rwanda: The Untold Story. Não? Então corre para ver porque vocês estão perdendo! Então, quando falamos em Ruanda, pensamos automaticamente do genocídio (ou seja, da destruição em massa de um grupo específico por motivações políticas, religiosas, etc) ocorrido em 1994, o qual os tutsis eram o alvo.

A mídia na época propagou o conflito como étnico-tribal. As Nações Unidas, por meio do Conselho de Segurança, não quis admitir que se tratava de um genocídio o que acontecia em Ruanda, dificultando assim as ações imediatas para conter o conflito. Ora, meu caros, estamos falando de África. Mas é claro que, uma disputa entre grupos dentro de um país vai ser considerada como uma disputa tribal, correto?
A questão é: os países africanos estão passando pelo processo de construção do Estado nacional, então as disputas internas podem ser caracterizadas nesse sentido, ou seja, disputa pelo poder do aparato estatal.
Pensando nesse sentido, o que aconteceu em Ruanda não foi uma disputa étnico-tribal, mas sim uma disputa política pelo aparato estatal. As categorias tutsi-hutus ao longo da história pré-colonial eram usadas como uma forma de referência social, aproximando-se de questões de classe. Com a chegada dos colonizadores, especialmente os Belgas que institucionalizaram a questão da etnia em Ruanda, essas categorias passaram a ser mais que classes sociais, instaurando-se assim como questões étnico-sociais.
Pensar que o conflito em Ruanda foi meramente uma questão étnica é desconsiderar outros fatores que estão acoplados no conflito, como o próprio cenário internacional pressionando o contexto interno no quesito econômico (crise de commodities), sociais (luta pelo poder), etc.
Então não, o conflito não foi étnico apenas, e sim teve como grande força as questões políticas!
Referências: Caso queiram mais informações sobre a temática, busquem os artigos do Filip Reyntjens e do David Norman Smith.